quarta-feira, 29 de outubro de 2008

TORQUATO NETO "O ANJO TORTO" (POETA/ COMPOSITOR)





Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e
Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
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Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de Novembro de 1944. Filho de promotor público e professora primária, estudou no mesmo colégio que Gilberto Gil, em Salvador, tornando-se amigo do compositor e conhecendo também os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Em 1962 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou um curso de Jornalismo. Sem o diploma, começou a exercer a profissão em diversos jornais cariocas.
Foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, participou da famosa capa do LP Tropicália ou Panis et Circenses (sentado ao lado de Gal Costa) - nesse disco estão incluídas duas de suas composições: Mamãe, Coragem e Geléia Geral (considerada o verdadeiro manifesto tropicalista).
Um dia após completar 28 anos de idade, ligou o gás do banheiro e suicidou-se. Deixou um bilhete: "Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar"
Era 10 de novembro de 1972 - e o Brasil perdia um de seus maiores e mais geniais poetas.

2 comentários:

Unknown disse...

"E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia". Parece que descreveu minha irmã, ela é assim! Só me revolta o porquê dos poetas só falarem das Carolinas (to brincando). Há grandes músicas com esse nome também. E as Amandas, onde ficam? (risos). Grande Glad, pode deixar que sempre passarei por aqui. Abração

Glad Azevedo disse...

é amanda! as carolinas estão com a bola cheia. vou procurar um poema com seu nome, se não achar eu mesmo faço... sua irmã examinou muito bem toda folia... bjus